“Mau olhado bem olhado ii”é a nova exposição da piccola galleria, na casa Fiat de cultura

“Mau olhado bem olhado ii”é a nova exposição da piccola galleria, na casa Fiat de cultura

Exposição aborda a relação entre as diferentes camadas sociais do país, o lugar que os corpos negros ocupam na sociedade e como essas questões influenciam a construção da relação a dois

Refletir sobre a afirmação e a resistência do negro, além de ressignificar seu papel social e suas relações são as propostas da nova exposição da Casa Fiat de Cultura“Mau Olhado Bem Olhado II”, dos artistas Janaína Barros Wagner Leite Viana está em cartaz na Piccola Galleria, de 10 de março 26 de abril. A mostra apresenta obras, que entrelaçam objetos, vestimentas, vídeos, fotografias e áudio, sempre destacando o olhar dos próprios artistas sobre o seu trabalho em diálogo com o olhar do público.

As instalações podem ser vistas a partir de duas perspectivas. Uma macro, que aborda o racismo e a violência que impactam a  população  negra no Brasil, bem como a relação entre as diferentes camadas sociais existentes no país. E outra micro, que aborda a construção de uma relação entre duas pessoas, com seus afetos, cumplicidade, violências coloniais, força, reciprocidade e peculiaridades.

Os artistas explicam que “Mau Olhado Bem Olhado II” é um processo construído desde 2011, a partir da experiência do casal com performance, vídeo e outras formas de registro e que nasceu com um carimbo de olho – hoje permeado na mostra por meio de uma estampa. “O olhar é uma temática importante em nosso trabalho. Entendemos que, seja qual for a natureza e a intencionalidade do olhar, é possível desvelar formas de assimetrias e simetrias nas relações”, destaca Janaína Barros, ao falar sobre a estampa que estará presente na peça gráfica “Cântico das Paixões” – um livreto que constituí de um mapa, que traz um código escaneável, e na instalação “Olhar e ser visto” – um vestido com áudio que descreve um roteiro com uma ação executada por um homem e uma mulher.

“A vestimenta evoca um possível corpo que o ocupa e nos faz pensar especialmente em corpos negros, considerando a nossa própria racialidade enquanto artistas e enquanto casal”, pontua Wagner Leite Viana. “E é impossível pensar em corpo sem pensar em carne. E, nesse caso, pensar no sacrifício da carne e dos corpos negros em toda a nossa história”, completa.

Para o crítico, Leonardo Araujo Beserra, que é membro do Grupo de Críticos do Centro Cultural de São Paulo, “Mau Olhado Bem Olhado II” compartilha as violências históricas e contemporâneas de maus olhados que esses corpos pretos sofrem e sofreram, no momento em que são capturados pelo olhar, mesmo que com intenção atenciosa. “A exposição é resultado de um processo, por meio de ações criadas a partir de vestígios do próprio casal, atravessado pelo corpo negro e seus afetos. Os trabalhos são circundados por assuntos da subjetividade política racial preta e geram metáforas a quem os imagina em trânsito. São bem olhados por meio da cocriação do espectador, mas foram produzidos antes por conta de mau olhados sociais”, reflete.

A mostra “Mau Olhado Bem Olhado II” integra o ciclo de exposições do 3º Programa de Seleção da Piccola Galleria, da Casa Fiat de Cultura para 2019/2020 e é uma realização do Ministério da Cidadania, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e da Casa Fiat de Cultura, com o patrocínio da Fiat Chrysler Automóveis (FCA), Fiat Chrysler Finanças e Banco Safra. A exposição conta com apoio institucional do Circuito Liberdade, Instituto Estadual do Patrimônio Histórico (Iepha), Governo de Minas e Governo Federal.

Sobre as obras

A exposição “Mau Olhado Bem Olhado II” é composta por cinco obras, desenvolvidas em conjunto pelos artistas em um processo criativo pensado a partir da construção de histórias. Os trabalhos são desenvolvidos no ateliê de Janaína e Wagner, que produzem os vestuários e objetos. Já as performances são gravadas em locações externas.

A primeira instalação é “Relação é depois de comer juntos um quilo de sal em pratos bem temperados”. Composta por um vestuário masculino e um feminino, uma mesa, dois tamboretes e um prato com 1 kg de sal com dois guardanapos, ela aborda a complexidade das relações e faz analogia a uma relação amadurecida, já que se leva tempo para comer 1 quilo de sal. E para se comer bem é preciso equilíbrio, já que sal demais é insuportável, e sem tempero a comida fica insossa.

Já a segunda instalação, “Aprumar-se”, apresenta seis fotografias e um objeto (uma pedra presa a um galho com uma forquilha em uma das extremidades” e refere-se ao que devemos e podemos fazer juntos, já que o objeto só é efetivo com a ação de duas pessoas sincronizadas. 

A terceira instalação, intitulada “Os Cânticos das Paixões”, é constituída de um mapa, que traz um código escaneável, mostrando pontos em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro construídos em cima de cemitérios, evocando a presença de corpos negros nessas cidades.

“Olhar e ser visto” é um vestido com áudio que provoca uma ideia de interatividade e reflexão, para que o espectador desenvolva uma relação com as peças e sinta como se o roteiro descrito no áudio pudesse ser vivido por ele.“Todo nosso trabalho é pensar nisso, como vamos construindo as histórias, as escritas, as narrativas; aos poucos. Isso é pensar que um alimento muitas vezes precisa ser dosado, assim são as relações. Isso traz muitas vezes também questões outras”, explica Janaína.

Para encerrar, o vídeo performance “Cântico da Paixão de Cláudia” parte da história de Cláudia Ferreira, vítima de uma operação policial em 2014, que foi baleada e arrastada por um carro, no Rio de Janeiro, por 350 metros. A obra reflete sobre o genocídio, mostrando que ele não ficou no passado e se perpetua no presente de diferentes maneiras. “Queremos questionar como essas relações entre camadas sociais são tecidos”, salienta Wagner.

Janaína Barros e Wagner Leite Viana

Janaína e Wagner atuam como artistas, pesquisadores e professores.Desenvolvem uma série de pesquisas artísticas, educativas e acadêmicas partindo de um campo de referências como exercício coletivo de conhecimentos articulados no enfrentamento contra a negação de enunciações e narrativas hegemônicas, afirmando o corpo negro, seus afetos, políticas e políticas. Sobretudo as alianças afetivas entre mulheres e homens interrompendo os regimes de autorização discursiva sobre os corpos problematizando os lugares de libertação de linguagem por meio de processos de criação, práticas educativas e condutas de pesquisa. 

Janaína Barros é professora adjunta na Escola de Belas Artes da UFMG, pós-doutora pelo programa de pós-graduação da Escola de Ciência e da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); doutora pela programa de pós-graduação Interunidades em Estética e História da Arte pelo Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP); mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Também é especialista em Linguagens Visuais pela Faculdade de Santa Marcelina e graduada em Educação Artística com habilitação em Artes Plásticas pela Unesp. Possui publicações sobre o debate de autoria negra e gênero na arte brasileira contemporânea.

Wagner Leite Viana é professor adjunto na Escola de Belas Artes da UFMG e tem experiência na área de arte e educação, com ênfase em práticas de educação e processos artísticos e epistemologias, educação para as relações étnico-raciais e educação ambiental. Atualmente desenvolve os seguintes projetos de pesquisa: “Ascendência, Afrobrasilidades e Autorias: Prática poética e educativa” e “Poéticas da natureza inscritas nas disputas e nas negociações do retrato e do corpo afro indígena como paisagem articulada pela memória ambiental”.

Performance de abertura – Oração sobre nossas águas

Para marcar a abertura da exposição “Mau Olhado Bem Olhado II”, os artistas Janaína e Wagner realizarão uma performance especial, no dia 10 de março, às 19h, no hall da Casa Fiat de Cultura. Intitulada “Oração sobre nossas águas”, a videoperformance apresenta os corpos feminino e masculino negros em uma interação que reflete os afetos e sua dimensão política na formação da família negra em diáspora. Uma projeção no videowall complementa a apresentação, que tem classificação indicativa de 14 anos.

Piccola Galleria

O espaço é destinado a artistas da cena contemporânea e foi criado em 2016 com o intuito de incentivar a produção nacional e internacional. Os artistas são selecionados por uma comissão de especialistas que, nesta edição de 2019, foi integrada pelo curador Marconi Drummond, pela artista plástica Nydia Negromonte e pelo arquiteto Paulo Waisberg. A proposta é apresentar e destacar trabalhos inéditos – pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, fotografias, instalações, performances e/ou videoarte – de artistas locais, brasileiros ou estrangeiros.

Em três programas de seleção, a Piccola Galleria recebeu 207 inscrições e, entre 2016 e 2019, já apresentou o trabalho de 15 artistas, 242 obras de arte e recebeu mais de 160 mil visitantes. A sala expositiva é um ambiente dedicado às artes visuais e sua criação marcou os 10 anos da Casa Fiat de Cultura. Situado ao lado do painel “Civilização Mineira”, de Candido Portinari, no hall principal da Casa Fiat de Cultura, o espaço é destinado a exposições de curta duração, mas com toda a visibilidade que a instituição enseja. Local intimista e com grande circulação de público, conta com a chancela da Casa Fiat de Cultura e do Circuito Liberdade, um dos mais importantes corredores culturais do país.

Seis artistas foram escolhidos no 3º Programa de Seleção da Piccola Galleria. A exposição PULSA, de Avilmar Maia, “Inventário” (Luiza Nobel), “Tudo é Eco no Universo” (Augusto Fonseca), “Sagoma” (Henrique Detomi) e “Mau olhado – bem olhado” (Janaína Barros e   Wagner Leite Viana).

Casa Fiat de Cultura

A Casa Fiat de Cultura cumpre importante papel na transformação do cenário cultural brasileiro, ao realizar prestigiadas exposições.A programação estimula a reflexão e interação do público com várias linguagens e movimentos artísticos, desdea arte clássica até a arte digital e contemporânea. Por meio do Programa Educativo,a instituição articula ações para ampliar a acessibilidadeàs exposições, desenvolvendoréplicas de obras de arte em 3D, materiais em brailee atendimento em libras. Mais de 50 mostras, de consagrados artistas brasileiros e internacionais, já foram expostas na Casa Fiat de Cultura, entre os quais Caravaggio, Rodin, Chagall, Tarsila, Portinari entre outros. Há 14 anos, o espaço apresenta uma programação diversificada, com música, palestras, residência artística, além do Ateliê Aberto – espaço de experimentação artística – e de programas de visitas com abordagem voltada para a valorização do patrimônio cultural e artístico. A Casa Fiat de Cultura é situada no histórico edifício do Palácio dos Despachos e apresenta, em caráter permanente, o painel de Portinari, Civilização Mineira, de 1959. O espaço integra um dos mais expressivos corredores culturais do país, o Circuito Liberdade, em Belo Horizonte. Mais de 2,7 milhões de pessoas já visitaram suas exposições e 550 mil participaram de suas atividades educativas.

Atividades educativas

O Programa Educativo da Casa Fiat de Cultura preparou algumas ações para aprofundar a reflexão sobre o tema da exposição. As visitas mediadas serão realizadas a partir de dois eixos temáticos. O primeiro será baseado na afirmação e resistência dos negros e vai abordar tópicos como racismo, desigualdade e a percepção sobre a população negra no Brasil. Já o segundo eixo temático abordará as relações pessoais, discutindo suas complexidades e necessidades.

O Encontros com Patrimônio de março, “Capoeira Angola: resistência, identidade e diversidade cultural”, vai levar os participantes a uma roda de capoeira, destacando a prática como uma forma de diversidade cultural. O evento será realizado no dia 22 de março, com inscrições pela Sympla.

Já o Ateliê Aberto de março trará o tema “Fotoperformance: corpo, espaço e movimento”, trabalhando o corpo como um elemento plástico. A ideia é criar peças que poderão ser compartilhadas em redes sociais e explorar o movimento enquanto ferramenta de expressão. A foto será abordada como veículo de produção artística. As atividades serão realizadas aos sábados, domingos e feriados em dois horários: às 10h30 e às 14h. 

SERVIÇO

Exposição Mau Olhado Bem Olhado II – Janaína Barros e Wagner Leite Viana na PiccolaGalleria da Casa Fiat de Cultura       

10 de março a 26 de abril

Terça a sexta, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h

Entrada gratuita

Atividades Educativas

Encontros com Patrimônio – Capoeira Angola: resistência, identidade e diversidade cultural

22 de março

Domingo, das 10h às 13h

Ponto de encontro: Hall da Casa Fiat de Cultura

Vagas limitadas, com inscrições pela Sympla

Ateliê Aberto – Fotoperformance: corpo, espaço e movimento

29 de fevereiro a 29 de março

Sábados, domingos e feriados, às 10h30 e às 14h

Casa Fiat de Cultura

Circuito Liberdade

Praça da Liberdade, 10 – Funcionários – BH/MG

Horário de funcionamento: terça a sexta, das 10h às 21h – Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h

Informações

(31) 3289-8900

www.casafiatdecultura.com.br

Antonio Peragine

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